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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Tibau por Francisco Obery Rodrigues


                                                          



DE NOVO, TIBAU-I

Texto de Francisco Obery Rodrigues
   

      Esteve em minha casa, na última quinta-feira à tarde, a jornalista Lucia Rocha, a fim de colher subsídios sobre a praia de Tibau, para um livro que pretende escrever a respeito, demorando-se mais de quatro horas em gostoso bate-papo. Esse evento me fez relembrar todas as vezes que fui àquela inigualável praia. A primeira foi em 1942, uma excursão dos quintanistas do Ginásio Diocesano Santa Luzia, presidida pelo seu então diretor, Padre Jorge O’grady de Paiva e composta, além dos alunos, por mais alguns professores e pelo senhor Pedro de Souza, chefe do internato, uma espécie de bedel. Fomos na sopa de Cícero Gadê. Não lembro se foram todos os alunos, mas ainda recordo que dos 27 concluintes fomos eu, Antônio Salem, Antônio José, Aluízio Moura, Eider Mendes, Evilásio Leão, Esdras Medeiros, Jader Leite, Paulo Carvalho, Paulo Gutemberg, Targino Soares, Itiel Genesio e mais uns oito. Saímos cedo e chegamos lá por volta das 8h30, hospedando-nos na aprazível casa de Lauro do Monte Rocha. Acomodados, o Padre Jorge nos liberou para tomar banho de mar. Descemos correndo, deliciámo-nos na praia e, depois de algumas horas, resolvemos escalar os belos morros coloridos, que eram uma das atrações de Tibau, mas os poderosos e ambiciosos demoliram a trator para edificarem suas confortáveis mansões. Lá, deparámo-nos com um bocado de cabras e alguns colegas procurando dar vasão a seus instintos, resolveram persegui-las por bastante tempo, mas elas eram bastante ariscas e ninguém conseguiu pegar nenhuma, o que os frustrou. Chegou, então, a convocação para o gostoso banho de pinga e, em seguida, o delicioso almoço, uma peixada preparada por Elisa. Depois, uma gostosa soneca em redes armadas nos alpendres, inclusive da casa vizinha, de Humberto Mendes, concunhado de seu Lauro. Por volta das quatro horas, retornamos. À noite, já em casa, cadê eu conseguir dormir com as costas queimadas por tanta exposição ao sol? Precisou minha mãe, sem saber o que fazer, passar goma com água. À custo consegui dormir.
         A segunda vez que fui a Tibau foi por volta de l945, eu já no Banco do Brasil, com os amigos Mocinho Holanda, Hemetério Fernandes e Raimundo, não recordo o sobrenome. Hospedámo-nos em uma casa do senhor Sebastião de Souza, mas, à noite, não consegui dormir com o barulho das ondas do mar e o farfalhar das palhas dos coqueirais, acordando cedo, maravilhando-me com aquela imensa bola de fogo, o sol, emergindo do oceano. A terceira vez foi no mesmo ano, com os colegas do banco: Zé Monte, Luiz Benévolo e Targino Soares, no carro de praça de Júlio Graxeiro, hospedando-nos em uma pensão, onde, antes de descermos à praia, tomamos uma gostosa cervejinha. Aproveitamos bem o dia, almoçamos na mesma pensão uma peixada, dormimos e, por volta das quatro, retornamos. Perto de Gangorra, o automóvel deu o prego e tivemos que pegar carona em cima da carroceria de um caminhão carregado de sacos de carvão, segurando-nos no que fosse possível e chegando em Mossoró cobertos do pó do pó negro da carga.
         A quarta vez, recém casados, fomos, eu e Brasília, para a casa do velho colega aposentado, caixa desde quase os primeiros anos do Banco do Brasil em Mossoró, Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque, seu Loureiro. Sua casa era de taipa e coberta de palhas de coqueiros e ficava logo na beira da praia; tinha um quarto cheiro de cacareco, onde acomodava seus cachorros. Tinha muita pulga. O velho colega e sua esposa, dona Elisa, nos acolheu muito bem. Jantamos peixe, sanhoá frita, que ele chamava princesa da praia, e era, realmente deliciosa. À noite, sob a luz do candeeiro, fomos conversar, ele contando-nos as suas muitas diabruras. Membro de uma ilustre família, com o mesmo nome do pai, doutor Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque, Juiz de Direito, abolicionista, poeta, excelente orador, ele, o filho do qual éramos hóspedes, aos 20 anos, apaixonado pela trapezista de um circo, fugiu de casa e nele foi bater em Manaus, depois Sena Madureira, onde, após casar com dona Elisa, retornou a Mossoró e, em 1922, tendo uma prima casada com o então gerente do banco, arranjou-lhe o lugar de continuo, passando a caixa em 1924. Loureiro morava em Mossoró na última casa da Rua 30 de Setembro, vindo, em seguida o descampado a que já me referi tantas vezes, palco de nossas brincadeiras. Conheci todos os seus dez filhos e fui amigo de Gerdeaux, de Paulo e de Zenaide. Quem conta todas as suas aventuras, detalhadamente, é Walter Wanderley, em seu excelente livro Gente da Gente, mas não da forma gostosa como o próprio Loureiro as narrava. Jovens ainda, eu e Brasília aproveitamos bem esses dias de férias em casa do velho colega e amigo, não obstante as pulgas. Tomávamos banho de mar e escalávamos os morros e dormíamos no alpendre, à beira mar. 

Publicado na Gazeta do Oeste, em 2014.

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