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Alcino Galvão, Lauro da Escóssia, Vicente Celestino e Aníbal Mora. Foto de Manuelito Pereira. |
Lembranças de Tibau, por Paulo Menezes
Estou hoje, início de 2020, na varanda do meu cantinho, na Praia do Meio, em Natal, que tem uma vista privilegiada da ponte Newton Navarro, estuário do rio Potengi, dunas de Genipabu e das águas verde-azuladas do mar.
Curtindo uma boa leitura e sentindo suave brisa numa rede branca com lençol bastante usado, bem macio, cheirando a guardado. A visão panorâmica de uma beleza sem par do majestoso oceano sempre me leva à Tibau dos meus sonhos. Esteja eu onde estiver. Pois Tibau foi e sempre será a primeira sem segunda, musa dos meus encantos, razão maior dos meus devaneios. De repente, surgem incontinenti algumas interrogações motivadas pela grande desolação que senti. Por onde andam as falésias que na minha juventude eram conhecidas por morros dos urubus? E os pingas d’água doce? Cadê as areias coloridas? E os Treis Maios arrastando milhares de peixes e camarões para a praia nas primeiras chuvas de janeiro?
Qual terá sido a causa de não mais serem vistos os papagaios de papel que ao sabor dos ventos coloriam o céu e faziam a festa da criançada?
Para onde foram as velas brancas da mais frágil das embarcações? Por onde andarão os vendedores de grude e de gelé? Ainda há o galanteio das serenatas? E as tertúlias no início das noites? Os forrós no final delas? É verdade que foram substituídos pelo barulho ensurdecedor e infernal dos paredões de som?
As reuniões no morrinho? Será que ele ainda existe? As inúmeras mesas com panos verdes onde rolavam disputadas partidas de pif-paf ainda estão sendo formadas? E as peladas antes do banho de mar? Por que sumiram da areia branca da praia os caranguejos grauçás com seus deslocamentos laterais à procura de suas moradas? A misteriosa Furna da Onça foi aterrada?
E os coqueirais, por que diminuíram tanto? Será que foi o motivo do desaparecimento das graúnas com seus maviosos cantos nas frias madrugadas? A luta para acabar com tanta coisa boa de um passado ditoso e feliz na linda praia tem sido grande. Vão terminar conseguindo.
E para quem viveu como eu os anos dourados da antiga e encantadora vila, verdade seja dita, sente falta e saudade de tudo isso. Sei que faz parte do progresso, mas até a areia fina e fria em que pisávamos nas caminhadas noturnas, trajeto de nossas inenarráveis serestas, foi substituída pela tarja negra e quente do asfalto. Resistindo, mesmo assim um pouco desgastada pelas altas cíclicas das marés e intempéries inexoráveis, restou apenas a Pedra do Chapeu, símbolo maior e cartão postal da orla esplendorosa.
Apesar disso, Tibau continua sendo minha querida e preferida praia. As lembranças aqui relatadas vêm acompanhadas de uma imensa saudade. Muita. Incomensurável. Prazerosa.
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